quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O quinto cometa descoberto por Lovejoy

O cometa Lovejoy, C/2014 Q2, é enquadrado como uma árvore de Natal cósmica decorada de estrelas neste retrato telescópico colorido obtido em 16 de Dezembro de 2014.

C/2014 Q2 Lovejoy

© Damian Peach (C/2014 Q2 Lovejoy)

Sua encantadora coma em verde é matizada pelo gás diatômico fluorescente C2 na luz solar. O cometa Lovejoy foi descoberto em 17 de Agosto de 2014; é o 5º descoberto pelo astrônomo amador australiano Terry Lovejoy. Este cometa está varrendo o norte através da constelação Columba, indo para Lepus, sul de Órion, e brilhante o suficiente para oferecer boas vistas binoculares. Entre os dias 28 e 29 de dezembro, o cometa Lovejoy vai passar muito próximo do aglomerado globular M79.

Na sua primeira aparição no Sistema Solar interior, o cometa Lovejoy passará mais próximo ao planeta Terra em 7 de janeiro, enquanto o seu periélio (ponto mais próximo do Sol) será em 30 de janeiro. O cometa estará acessível para o hemisfério sul no verão de 2015, cujo brilho atingirá a 5ª magnitude.

O cometa C/2014 Q2 Lovejoy tem uma órbita acentuadamente inclinada em relação à eclíptica (80,3°) e um período de cerca de 14.166 anos.

Fonte: NASA

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Desfiladeiro na superfície de cometa

Esses belos desfiladeiros ocorrem na superfície de um cometa.

desfiladeiro em cometa

© ESA/Rosetta/NAVCAM (desfiladeiro em cometa)

A imagem acima é um mosaico de quatro quadros obtida em 10 de Dezembro de 2014 pela NAVCAM da Rosetta, mostrando um desfiladeiro do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Ele foi descoberto pela sonda Rosetta, como sendo parte do núcleo escuro do cometa Churyumov-Gerasimenko.

A sonda Rosetta foi lançada pela ESA a mais de 10 anos atrás, e está na órbita do cometa desde o início do mês de Agosto de 2014. Embora o desfiladeiro chega a cerca de um quilômetro de altura, a baixa gravidade na superfície do cometa Churyumov-Gerasimenko, permitiria que o ser humano pudesse pular do desfiladeiro e sobreviver a essa queda. No pé do desfiladeiro pode-se ver um terreno relativamente suave, pontuado com pedaços de rochas que chegam a ter 20 metros de diâmetro. Dados obtidos pela sonda Rosetta, indicam que o gelo do cometa Churyumov-Gerasimenko, tem uma fração de deutério significantemente diferente daquela encontrada nos oceanos da Terra, indicando assim uma origem  provavelmente diferente também. A sonda Rosetta está programada para continuar acompanhando o cometa durante o ano de 2015 observando as mudanças na sua atividade enquanto ele se aproxima do periélio que acontecerá em Agosto de 2015.

Fonte ESA

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Rosetta e a origem dos oceanos na Terra

A sonda Rosetta da ESA descobriu que o vapor de água do seu alvo cometário é significativamente diferente daquele presente aqui na Terra.

taxa de água no cometa Churyumov-Gerasimenko

© ESA (taxa de água no cometa Churyumov-Gerasimenko)

A imagem acima mostra uma medição da taxa deutério/hidrogênio efetuada pela Rosetta no vapor de água ao redor do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. O gráfico mostra os diferentes valores da taxa, observados em vários corpos do Sistema Solar. Os pontos de dados estão agrupados por cor para planetas e luas (azul), meteoritos condritos do cinturão de asteroides (cinzento), cometas originários da nuvem de Oort (roxo) e cometas da família de Júpiter (rosa). O ponto de dados do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, medido pela Rosetta, está em amarelo. O símbolo diamante representa dados obtidos "in situ", os círculos representam dados obtidos por métodos astronômicos. A parte inferior do gráfico mostra o valor da taxa deutério/hidrogênio medido no hidrogênio molecular na atmosfera dos gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno) e uma estimativa do valor típico no hidrogênio molecular da nebulosa protosolar, a partir da qual todos os objetos do Sistema Solar se formaram. A taxa para os oceanos da Terra é 1,56x10−4 (linha horizontal no gráfico). O valor para o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko é 5,3x10−4, mais de três vezes superior.

A descoberta alimenta o debate sobre a origem dos oceanos do nosso planeta. As medições foram feitas no mês que se seguiu à chegada da sonda ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, no dia 6 de Agosto. É um dos primeiros resultados e dos mais esperados da missão, porque a origem da água da Terra ainda é uma questão em aberto.

Uma das principais hipóteses sobre a formação da Terra é que estava tão quente quando se formou há 4,6 bilhões de anos atrás, que o teor original de água deve ter evaporado para o espaço. Mas, hoje, 2/3 da superfície está coberta por água. Então, de onde veio?

Neste cenário, deve ter sido entregue após o nosso planeta ter arrefecido, provavelmente por colisões de cometas e asteroides. A contribuição relativa de cada classe de objeto para o abastecimento de água do nosso planeta é, no entanto, ainda debatida.

A chave para determinar de onde a água veio está relacionada neste caso a proporção de deutério, um isótopo do hidrogênio com um nêutron adicional em relação ao hidrogênio normal.

Esta proporção é um indicador importante da formação e evolução inicial do Sistema Solar, e as simulações teóricas mostram que deve mudar com a distância ao Sol e com o tempo nos primeiros milhões de anos.

Um dos objetivos principais é comparar o valor de diferentes tipos de objetos com aquele medido nos oceanos da Terra, a fim de quantificar a influência de cada das classes na água da Terra.

Os cometas em particular são ferramentas únicas para estudar o início do Sistema Solar: eles contêm material deixado para trás após a formação do disco protoplanetário a partir do qual os planetas nasceram, devendo por isso refletir a composição primordial dos seus locais de origem.

Mas graças à dinâmica do Sistema Solar jovem, este não é um processo simples. Os cometas de longo período, que são oriundos da distante nuvem de Oort, formaram-se originalmente na região de Urano-Netuno, suficientemente longe do Sol para a água gelada sobreviver.

Mais tarde, foram espalhados para os distantes confins do Sistema Solar como resultado de interações gravitacionais com os gigantes gasosos à medida que estes se estabeleciam nas suas órbitas.

dois reservatórios principais de cometas no Sistema Solar

© ESA (dois reservatórios principais de cometas no Sistema Solar)

A ilustração acima mostra os dois reservatórios principais de cometas no Sistema Solar: o Cinturão de Kuiper, a uma distância de 30 a 50 UA (UA: unidade astronômica, a distância entre a Terra e o Sol) do Sol, e a Nuvem de Oort, que poderá estar de 50.000 a 100.000 UA do Sol. Pensa-se que o Cometa Halley seja originário da Nuvem de Oort, enquanto o 67P/Churyumov-Gerasimenko, o foco da missão Rosetta, é originário do Cinturão de Kuiper. Está agora numa órbita com a duração de 6,5 anos em torno do Sol, entre as órbitas da Terra e Marte no periélio e mesmo para além de Júpiter no afélio.

Por outro lado, pensa-se que os cometas da família de Júpiter, como o cometa da Rosetta, formaram-se mais longe, no Cinturão de Kuiper para além de Netuno. Ocasionalmente estes corpos são perturbados e enviados para o Sistema Solar interior, onde as suas órbitas tornam-se controladas pela influência gravitacional de Júpiter.

De fato, o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko viaja agora em torno do Sol entre as órbitas da Terra e de Marte, no seu ponto mais próximo, e um pouco além da de Júpiter no seu ponto orbital mais distante, com um período de aproximadamente 6,5 anos.

As medições anteriores da taxa de deutério/hidrogênio em outros cometas mostraram uma gama vasta de valores. Dos 11 cometas cujas medições foram finalizadas, apenas o cometa 103P/Hartley 2, da família de Júpiter (em observações feitas pela missão Herschel da ESA em 2011), coincide com a composição da água da Terra.

Por outro lado, certos meteoritos, vindos originalmente de asteroides do cinturão principal, também correspondem à composição da água da Terra. Assim sendo, apesar do fato dos asteroides terem um teor de água em geral muito menor, um grande número de impactos pode ainda ter resultado nos oceanos da Terra.

Por este motivo que as investigações da Rosetta são importantes. Curiosamente, a relação entre o deutério e o hidrogênio, medida pelo instrumento ROSINA (Rosetta Orbiter Spectrometer for Ion and Neutral Analysis) da Rosetta, é mais de três vezes superior à dos oceanos da Terra e do seu companheiro da família de Júpiter, o Cometa Hartley 2; sendo atualmente ainda maior do que a de qualquer outro cometa da nuvem de Oort.

"Esta descoberta surpreendente pode indicar uma origem diversa para os cometas da família de Júpiter, formaram-se talvez numa maior variedade de distâncias no jovem Sistema Solar," afirma Kathrin Altwegg, pesquisadora principal para o ROSINA e autora principal do artigo que relata os resultados.

"A nossa descoberta também exclui a ideia de que os cometas da família de Júpiter contêm apenas água parecida à dos oceanos da Terra, e dá mais peso aos modelos que colocam mais ênfase nos asteroides como o principal mecanismo de entrega para os oceanos da Terra."

"Nós sabíamos que a análise 'in situ' da Rosetta traria surpresas para o grande quadro da ciência do Sistema Solar, e esta notável observação certamente acrescenta combustível no debate acerca da origem da água da Terra," afirma Matt Taylor, cientista do projeto Rosetta da ESA.

"À medida que a Rosetta continua seguindo o cometa na sua órbita ao redor do Sol ao longo do próximo ano, estaremos mantendo uma vigilância apertada sobre como evoluiu e se comporta, o que nos dará uma visão única sobre o mundo misterioso dos cometas e sobre a sua contribuição para o nosso conhecimento da evolução do Sistema Solar."

Os resultados obtidos da pesquisa foi publicado na revista Science.

Fonte: ESA