segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Era uma vez, num cometa azul...

Esta imagem mostra o cometa C/2016 R2 (PANSTARRS) localizado nos confins do Sistema Solar.
© ESO/SPECULOOS (C/2016 R2 PANSTARRS)

Tal como o seu nome sugere, este cometa foi descoberto em 2016 pelos telescópios Pan-STARRS no Havaí. Esta nova imagem foi captada por um projeto baseado no Observatório do Paranal do ESO no Chile chamado SPECULOOS — Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars (Busca de planetas habitáveis que eclipsam estrelas ultra-frias).

Os cometas são bolas de poeira, gelo, gás e rochas. Quando passam perto do Sol, o gelo aquece, transformando-se em gás e escapando num processo chamado “outgassing”. Este processo forma envelopes difusos em torno do núcleo do cometa, as chamadas comas, e caudas bem distintas.

Observações SPECULOOS mostram que a cauda do C/2016 R2 (PANSTARRS) muda drasticamente ao longo de apenas uma noite, criando um conjunto dinâmico de imagens. Esta imagem corresponde a observações obtidas no dia 18 de janeiro de 2018 durante uma fase de testes do telescópio Callisto do SPECULOOS, e foram tiradas quando o cometa estava a 2,85 UA do Sol (1 Unidade Astronômica corresponde à distância média entre a Terra e o Sol) e viajando em direção ao interior do Sistema Solar.

Este cometa é particularmente intrigante por causa das moléculas e compostos raros detectados na sua coma: monóxido de carbono e íons de nitrogênio. Estes compostos dão ao cometa linhas de emissão azuis distintas; daí ter sido apelidado de "cometa azul". Este tímido cometa passa perto do Sol apenas uma vez a cada 20.000 anos, tendo a sua mais recente aproximação sido em maio de 2018. Esta imagem foi obtida quando o telescópio seguia o movimento do cometa; por isso os traços brilhantes de luz no fundo da imagem correspondem a estrelas distantes, mas o cometa e a sua coma gasosa estão bem focados, uma prova do poder de rastreamento do SPECULOOS.

Fonte: ESO

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Descoberto "portal" de cometas

Um novo estudo liderado por um pesquisador da Universidade da Flórida Central pode alterar fundamentalmente a nossa compreensão de como os cometas chegam da periferia do Sistema Solar e são canalizados para o Sistema Solar interior, aproximando-se da Terra.
© U. Arizona/H. Roper (ilustração do Centauro SW1)

O portal foi descoberto como parte de uma simulação de centauros, pequenos corpos gelados que viajam em órbitas caóticas entre Júpiter e Netuno. A equipe do estudo modelou a evolução dos corpos localizados além da órbita de Netuno, através da região do planeta gigante e para dentro da órbita de Júpiter. Estes corpos gelados são considerados restos quase intocados de material do nascimento do nosso Sistema Solar.

O percurso dos cometas desde o seu local de formação original em direção ao Sol há muito tempo que é debatido.

Como é que os cometas novos, controlados pela influência de Júpiter, subsituem os que são perdidos? Onde está a transição entre residir no Sistema Solar exterior, como pequenos corpos adormecidos, e tornarem-se ativos no Sistema Solar interior, exibindo uma coma e uma cauda generalizadas de gás e poeira? Estas perguntas permaneceram um mistério até agora.

Pensa-se que os centauros tenham origem no Cinturão de Kuiper, uma região situada além de Netuno, e são considerados como a fonte dos Cometas da Família de Júpiter (CFJ) que ocupam o Sistema Solar interior. A natureza caótica das órbitas dos centauros obscurece os seus percursos exatos, dificultando a previsão do seu futuro como cometas.

Quando corpos gelados como os centauros ou cometas se aproximam do Sol, começam a liberar gás e poeira para produzir a aparência difusa da coma e as caudas longas caracterizando os cometas. Esta exibição está entre os fenômenos observáveis mais impressionantes do céu noturno, mas também é um lampejo de beleza fugaz que é rapidamente seguido pela destruição do cometa ou pela sua evolução para um estado adormecido.

O objetivo original da pesquisa era explorar a história de um centauro peculiar, o cometa 29P/Schwassmann-Wachmann 1 (SW1), um centauro de tamanho médio numa órbita quase circular logo a seguir a Júpiter. O SW1 há muito que intriga os astrônomos com a sua alta atividade e frequentes surtos explosivos que ocorrem a uma distância do Sol onde o gelo efetivamente não deverá vaporizar. Tanto a sua órbita quanto a sua atividade colocam SW1 num meio termo evolutivo entre os outros centauros e os Cometas da Família de Júpiter. Os pesquisadores queriam explorar se as circunstâncias de SW1 eram consistentes com a progressão orbital dos outros centauros.

Mais de um em cada cinco centauros que rastreados encontrava-se numa órbita semelhante à de SW1 em algum momento da sua vida.  Além da natureza comum da órbita de SW1, as simulações levam a uma descoberta ainda mais surpreendente.

Os centauros que passam por esta região são a fonte de mais de dois-terços de todos os CFJs, tornando-se no portal principal através do qual estes cometas são produzidos. Esta região não hospeda objetos durante muito tempo, sendo que a maioria dos centauros se tornam CFJs em alguns milhares de anos. Esta é uma parte curta da vida útil de qualquer objeto do Sistema Solar, que pode durar milhões e por vezes bilhões de anos.

A presença do portal fornece um meio há muito procurado de identificar os centauros numa trajetória iminente em direção ao Sistema Solar interior. O SW1 é atualmente o maior e mais ativo dos poucos objetos descobertos nesta região, o que o torna num principal candidato a avançar o conhecimento das transições orbitais e físicas que moldam a população de cometas que são vistos hoje.

A compreensão dos cometas está intimamente ligada ao conhecimento da composição inicial do nosso Sistema Solar e à evolução das condições para o surgimento de atmosferas e da vida.
Um artigo foi publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: University of Central Florida

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Um cometa visitante interestelar

Um cometa recém-descoberto empolgou a comunidade astronômica recentemente porque parece ter tido origem fora do Sistema Solar.
© NASA/JPL-Caltech (ilustração da trajetória do cometa Borisov)

O objeto, designado C/2019 Q4 (Borisov), foi descoberto no dia 30 de agosto de 2019 por Gennady Borisov no Observatório MARGO em Nauchnij, Crimeia.

A confirmação oficial de que o Cometa C/2019 Q4 é um cometa interestelar ainda não foi feita, mas se for interestelar, seria apenas o segundo objeto detectado desta classe. O primeiro, 'Oumuamua, foi observado e confirmado em outubro de 2017.

O novo cometa, C/2019 Q4, ainda está se dirigindo em direção ao Sol, mas permanecerá além da órbita de Marte e não chegará a menos de 300 milhões de quilômetros da Terra.

Após as detecções iniciais do cometa, o sistema Scout, localizado no JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA, em Pasadena, EUA, sinalizou o objeto como possivelmente interestelar.

Davide Farnocchia do CNEOS (Center for Near-Earth Object Studies) da NASA, no JPL, trabalhou com astrônomos e com o NEOCC (Near-Earth Object Coordination Center) da ESA em Frascati, Itália, para obter observações adicionais. Trabalhou em seguida com o Centro de Planetas Menores em Cambridge, Massachusetts, para estimar a trajetória precisa do cometa e determinar se teve origem dentro do nosso Sistema Solar ou se veio de outro lugar da Galáxia.

Atualmente, o cometa está a 420 milhões de quilômetros do Sol e vai alcançar o seu ponto mais próximo, ou periélio, no dia 8 de dezembro de 2019, a uma distância de 300 milhões de quilômetros.

A velocidade atual do cometa é alta, cerca de 150.000 km/h, bem acima das velocidades típicas de objetos que orbitam o Sol a esta distância. A alta velocidade indica não apenas que o objeto provavelmente teve origem fora do nosso Sistema Solar, mas também que irá sair e voltar para o espaço interestelar.

Atualmente numa trajetória de entrada, o cometa C/2019 Q4 está se dirigindo para o Sistema Solar interior. No dia 26 de outubro, passará pelo plano da eclíptica, o plano no qual a Terra e os outros planetas orbitam o Sol, vindo de cima, aproximadamente a um ângulo de 40 graus.

O C/2019 Q4 foi estabelecido como sendo cometário devido à sua aparência difusa, o que indica que o objeto tem um corpo central gelado que está produzindo uma nuvem circundante de poeira e partículas à medida que se aproxima do Sol e aquece. A sua localização no céu (a partir do ponto de vista da Terra) coloca-o perto do Sol, uma área do céu geralmente não examinada por grandes levantamentos terrestres de asteroides ou pela sonda caçadora de asteroides NEOWISE da NASA.

O C/2019 Q4 só poderá ser observado com telescópios profissionais nos próximos meses. O objeto terá o seu pico de brilho em meados de dezembro e continuará a ser observável com telescópios de tamanho médio até abril de 2020. Depois, só será observável com telescópios profissionais maiores até outubro de 2020.

As observações concluídas por Karen Meech e pela sua equipe na Universidade do Havaí indicam que o núcleo do cometa tem entre 2 e 16 quilômetros em diâmetro.

Os astrônomos vão continuar recolhendo observações para caracterizar ainda mais as propriedades físicas do cometa (tamanho, rotação, etc.) e também identificar melhor sua trajetória.

Outros detalhes acesse: Novo visitante interestelar?

Fonte: Jet Propulsion Laboratory

terça-feira, 5 de março de 2019

Cometa de um Cocheiro

Ainda correndo pelos céus noturnos do planeta Terra, o cometa Iwamoto (C/2018 Y1) compartilha esse campo de visão telescópico com estrelas e nebulosas da constelação de Auriga, o Cocheiro.
© Rolando Ligustri (cometa Iwamoto)

A imagem do cometa Iwamoto foi captada em 27 de fevereiro, aparece com a coma esverdeada e a cauda fraca entre um complexo de nebulosas de emissão avermelhada e o aglomerado estelar aberto M36 (canto inferior direito). A emissão avermelhada é a luz do gás hidrogênio ionizado pela radiação ultravioleta de estrelas quentes perto da nuvem molecular gigante da região, a cerca de 6.000 anos-luz de distância.

O brilho esverdeado do cometa, a menos de 5 minutos-luz de distância, é devido predominantemente à emissão de moléculas de carbono diatômicas fluorescentes à luz do Sol.

O M36, um dos aglomerados estelares mais familiares da constelação de Auriga, também é um objeto de fundo muito além do Sistema Solar, localizado a cerca de 4.000 anos-luz de distância.

O cometa Iwamoto passou mais próximo da Terra em 12 de fevereiro e está preso a uma órbita altamente elíptica que o levará além do cinturão de Kuiper. O cometa Iwamoto tem um período orbital estimado de 1.317 anos, devendo retornar ao Sistema Solar interno em 3390 dC.

Fonte: NASA