quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A origem do cometa ATLAS

Suspeita-se que há cerca de 5.000 anos um cometa passou a 37 milhões de quilômetros do Sol, mais perto do que o planeta Mercúrio.



© Hubble (fragmentação do cometa ATLAS)

Este par de imagens é do cometa C/2019 Y4 (ATLAS) obtidas pelo telescópio espacial Hubble, nos dias 20 e 23 de abril de 2020, revelam a fragmentação do núcleo sólido do cometa. As fotos do Hubble identificam até 30 fragmentos separados. O cometa estava aproximadamente a 146 milhões de quilômetros da Terra quando as imagens foram captadas. O cometa foi colorido artificialmente nas imagens para melhorar os detalhes para análise.

O cometa pode ter sido uma visão espetacular para as civilizações da Eurásia e do Norte da África no final da Idade da Pedra ou início da Idade do Bronze. No entanto, este visitante espacial sem nome não está registrado em qualquer relato histórico conhecido. 

Então, como é que os astrônomos sabem que existiu tal intruso interplanetário? É aqui que entra o cometa ATLAS (C/2019 Y4), que apareceu pela primeira vez no início de 2020. O cometa ATLAS, detectado pela primeira vez pelo ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), operado pela Universidade do Havaí, rapidamente encontrou uma morte prematura em meados de 2020, quando se desintegrou numa cascata de pequenos pedaços de gelo.

Num novo estudo usando observações do telescópio espacial Hubble, o astrônomo Quanzhi Ye da Universidade de Maryland em College Park, EUA, relata que o ATLAS é um pedaço que se separou deste antigo visitante. Isto ocorreu porque o ATLAS segue a mesma trajetória de um cometa visto em 1844, significando que os dois cometas são provavelmente irmãos de um cometa original que se fragmentou muitos séculos antes.

A ligação entre os dois cometas foi observada pela primeira vez pelo astrônomo amador Maik Meyer. Estas famílias de cometas são comuns. O exemplo visual mais dramático foi em 1994, quando o cometa condenado Shoemaker-Levy 9 foi fragmentado pela atração gravitacional de Júpiter. Estes fragmentos teve vida curta. Pedaço a pedaço, caiu em Júpiter em julho de 1994.

Ao contrário do seu hipotético cometa parente, o ATLAS desintegrou-se enquanto estava mais longe do Sol do que a Terra, a uma distância superior a 160 milhões de quilômetros. Este valor fica muito acima da distância em que o seu progenitor passou pelo Sol. Se se separou assim tão longe do Sol, como é que sobreviveu à última passagem pelo Sol há 5.000 anos? É muito incomum porque não seria de esperar. Esta é a primeira vez que um membro da família de um cometa de longo período foi visto se separando antes de passar perto do Sol.

A observação da fragmentação fornece pistas de como o cometa original se formou. Sabe-se que os cometas são aglomerações frágeis de poeira e gelo.

Após um ano de análise, os pesquisadores relatam que um fragmento do ATLAS se desintegrou em questão de dias, enquanto outro durou semanas. Isto informa que parte do núcleo era mais forte do que a outra. Uma possibilidade é que correntes de material ejetado podem ter feito o cometa girar tão depressa que as forças centrífugas o rasgaram. Uma explicação alternativa é que possui gelos muito voláteis que simplesmente explodiram o cometa como fogo de artifício. O irmão sobrevivente do cometa ATLAS só regressará no século L (50).

Veja mais detalhes em A fragmentação do cometa ATLAS.

Um novo artigo foi publicado no periódico The Astronomical Journal.

Fonte: Space Telescope Science Institute