Um novo estudo liderado por um pesquisador da Universidade da Flórida Central pode alterar fundamentalmente a nossa compreensão de como os cometas chegam da periferia do Sistema Solar e são canalizados para o Sistema Solar interior, aproximando-se da Terra.
© U. Arizona/H. Roper (ilustração do Centauro SW1)
O portal foi descoberto como parte de uma simulação de centauros, pequenos corpos gelados que viajam em órbitas caóticas entre Júpiter e Netuno. A equipe do estudo modelou a evolução dos corpos localizados além da órbita de Netuno, através da região do planeta gigante e para dentro da órbita de Júpiter. Estes corpos gelados são considerados restos quase intocados de material do nascimento do nosso Sistema Solar.
O percurso dos cometas desde o seu local de formação original em direção ao Sol há muito tempo que é debatido.
Como é que os cometas novos, controlados pela influência de Júpiter, subsituem os que são perdidos? Onde está a transição entre residir no Sistema Solar exterior, como pequenos corpos adormecidos, e tornarem-se ativos no Sistema Solar interior, exibindo uma coma e uma cauda generalizadas de gás e poeira? Estas perguntas permaneceram um mistério até agora.
Pensa-se que os centauros tenham origem no Cinturão de Kuiper, uma região situada além de Netuno, e são considerados como a fonte dos Cometas da Família de Júpiter (CFJ) que ocupam o Sistema Solar interior. A natureza caótica das órbitas dos centauros obscurece os seus percursos exatos, dificultando a previsão do seu futuro como cometas.
Quando corpos gelados como os centauros ou cometas se aproximam do Sol, começam a liberar gás e poeira para produzir a aparência difusa da coma e as caudas longas caracterizando os cometas. Esta exibição está entre os fenômenos observáveis mais impressionantes do céu noturno, mas também é um lampejo de beleza fugaz que é rapidamente seguido pela destruição do cometa ou pela sua evolução para um estado adormecido.
O objetivo original da pesquisa era explorar a história de um centauro peculiar, o cometa 29P/Schwassmann-Wachmann 1 (SW1), um centauro de tamanho médio numa órbita quase circular logo a seguir a Júpiter. O SW1 há muito que intriga os astrônomos com a sua alta atividade e frequentes surtos explosivos que ocorrem a uma distância do Sol onde o gelo efetivamente não deverá vaporizar. Tanto a sua órbita quanto a sua atividade colocam SW1 num meio termo evolutivo entre os outros centauros e os Cometas da Família de Júpiter. Os pesquisadores queriam explorar se as circunstâncias de SW1 eram consistentes com a progressão orbital dos outros centauros.
Mais de um em cada cinco centauros que rastreados encontrava-se numa órbita semelhante à de SW1 em algum momento da sua vida. Além da natureza comum da órbita de SW1, as simulações levam a uma descoberta ainda mais surpreendente.
Os centauros que passam por esta região são a fonte de mais de dois-terços de todos os CFJs, tornando-se no portal principal através do qual estes cometas são produzidos. Esta região não hospeda objetos durante muito tempo, sendo que a maioria dos centauros se tornam CFJs em alguns milhares de anos. Esta é uma parte curta da vida útil de qualquer objeto do Sistema Solar, que pode durar milhões e por vezes bilhões de anos.
A presença do portal fornece um meio há muito procurado de identificar os centauros numa trajetória iminente em direção ao Sistema Solar interior. O SW1 é atualmente o maior e mais ativo dos poucos objetos descobertos nesta região, o que o torna num principal candidato a avançar o conhecimento das transições orbitais e físicas que moldam a população de cometas que são vistos hoje.
A compreensão dos cometas está intimamente ligada ao conhecimento da composição inicial do nosso Sistema Solar e à evolução das condições para o surgimento de atmosferas e da vida.
Um artigo foi publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.
Fonte: University of Central Florida