terça-feira, 7 de julho de 2015

Cometa pode abrigar micro-organismos ativos

Dois cientistas planetários do Reino Unido, o especialista em cometas Prof. Chandra Wickramasinghe do Buckingham Center for Astrobiology e o Dr. Max Wallis da University of Cardiff, têm uma possível explicação para as estranhas propriedades do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko que está sendo estudado pela sonda Rosetta da ESA: são micro-organismos que moldam a atividade cometária.

mosaico do cometa 67P Churyumov-Gerasimenko

© ESA/Rosetta (mosaico do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko)

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko é relativamente pequeno e pertence à família de cometas de Júpiter, com cerca de 4 km de diâmetro, movendo-se a uma velocidade de 135.000 km/h.

Ele circunda o Sol com um período de 6,45 anos, entre as órbitas de Júpiter e da Terra, que representa algo em torno de 800 milhões a 186 milhões de quilômetros do Sol.

“Apesar do cometa ter uma crosta muito escura, as imagens da Rosetta mostram alguns indicativos de uma morfologia congelada na subsuperfície. O cometa apresenta, áreas suaves e planas e crateras com o assoalho plano, ambas as características também foram observadas no cometa Tempel-1”, disseram os cientistas.

“A superfície do cometa 67P, é salpicada com grandes pedaços de rochas como o Cometa Hartley-2, enquanto que o terreno paralelo aparece como uma nova feição de gelo. As maiores áreas planas curvas ao redor de um dos lóbulos do cometa, e suas crateras se estendem por cerca de 150 metros de diâmetro e são formadas por corpos de água recongelados sobrepostos com detritos ricos em matéria orgânica com cerca de 10 cm”.

“Os sulcos paralelos referem-se a flexão do corpo formado por dois lobos assimétricos em rotação, que geram fraturas no corpo de gelo subjacente”.

“Todas essas características são consistentes com uma mistura de gelo e material orgânico que se consolida sob o calor do Sol durante a órbita do cometa, quando micro-organismos ativos podem ser mantidos”.

pedras, crateras e penhascos íngremes no cometa

© ESA/Rosetta (pedras, crateras e penhascos íngremes no cometa)

Vários aspectos da superfície do cometa, incluindo pedras, crateras e penhascos íngremes são claramente visíveis na imagem acima.

Nos seus modelos, os micro-organismos alienígenas provavelmente necessitam de corpos de água líquida para colonizar o cometa e poderiam habitar as fraturas no gelo e na neve. Organismos contendo sais anticongelantes são particularmente bons candidatos para se adaptarem nessas condições e alguns deles poderiam ser ativos em temperaturas abaixo de 40 graus Celsius.

Áreas iluminadas pelo Sol no cometa se aproximaram dessa temperatura em Setembro de 2014, quando ele estava a 500 milhões de quilômetros de distância do Sol e fracas emissões de gás eram evidentes. À medida que ele se aproxima do Sol, com o periélio acontecendo a 195 milhões de quilômetros, com a temperatura aumentando e a atividade gasosa se tornando mais ativa, também os micro-organismos poderiam ficar cada vez mais ativos.

“A emissão de gás já era evidente em Setembro a 3,3 UA, com a temperatura de pico na superfície entre 220 e 230 K, o que implica moléculas de água fracas e/ou misturas orgânicas não consolidadas. O aumento na taxa de emissão de gases à medida que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko alcança o periélio a cerca de 1,3 UA revelarão a ativação de possíveis micro-organismos bem como a natureza e prevalência de gelo próximo da superfície”, dizem os cientistas.

“A Rosetta já está mostrando que o cometa não pode ser visto como um corpo inativo e profundamente congelado, mas que suporta sim processos geológicos e que poderia ser um lugar próspero para uma vida microscópica, mais hospitaleiro até do que as regiões no Ártico e na Antártica”.

“Se o módulo orbital Rosetta encontrar alguma evidência de vida no cometa, isso seria um tributo para marcar o centenário de nascimento de Sir Fred Hoyle, um dos pioneiros da Astrobiologia”.

Os cientistas apresentaram suas ideias numa conferência, realizada ontem no National Astronomy Meeting em Llandudno, em Wales, no Reino Unido.

Fonte: Royal Astronomical Society