quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Estimativa do tamanho do cometa interestelar

Uma equipe de astrônomos captou a imagem mais nítida de sempre do inesperado cometa interestelar 3I/ATLAS, utilizando a visão apurada do telescópio espacial Hubble.

© Hubble (3I/ATLAS)

Esta é uma imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS foi obtida pelo telescópio espacial Hubble no dia 21 de julho de 2025, quando estava a 365 milhões de quilômetros da Terra. O Hubble mostra que o cometa tem um casulo de poeira em forma de lágrima saindo do seu núcleo sólido e gelado. Como o Hubble estava acompanhando o cometa movendo-se ao longo de uma trajetória hiperbólica, as estrelas estacionárias de fundo aparecem como riscos na exposição.

As observações do Hubble estão permitindo aos astrônomos estimar com maior precisão o tamanho do núcleo sólido e gelado do cometa. O limite superior do diâmetro do núcleo é de 5,6 quilômetros, embora possa ter apenas 320 metros. Apesar de as imagens do Hubble colocarem restrições mais rigorosas ao tamanho do núcleo em comparação com as estimativas anteriores feitas a partir do solo, o núcleo sólido do cometa não pode ser visto diretamente, mesmo pelo Hubble.

Outras observações, incluindo com o telescópio espacial James Webb, vão ajudar a refinar o nosso conhecimento sobre o cometa, incluindo a sua composição química. O Hubble também captou uma pluma de poeira ejetada do lado aquecido pelo Sol do cometa e o indício de uma cauda de poeira que se afasta do núcleo.

Os dados do Hubble revelam uma taxa de perda de poeira consistente com cometas que são detectados pela primeira vez a cerca de 480 milhões de quilômetros do Sol. Este comportamento é muito semelhante ao dos cometas anteriormente observados com origem no nosso Sistema Solar. A grande diferença é que este visitante interestelar teve origem em outro sistema solar na Via Láctea.

O 3I/ATLAS está viajando pelo nosso Sistema Solar a cerca de 210.000 quilômetros por hora, a velocidade mais alta já registada para um visitante do Sol. Esta velocidade impressionante é evidência de que o cometa tem vindo a vaguear pelo espaço interestelar há bilhões de anos.

O efeito de catapulta gravitacional de inúmeras estrelas e nebulosas pelas quais o cometa passou deu-lhe momento, aumentando a sua velocidade. Quanto mais tempo o 3I/ATLAS permaneceu no espaço, maior foi o aumento da sua velocidade. 

Este cometa foi descoberto pelo ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) no dia 1 de julho de 2025, a uma distância de 675 milhões de quilômetros do Sol. O 3I/ATLAS deverá permanecer visível aos telescópios terrestres até setembro. Depois, passará demasiado perto do Sol para ser observado e deverá reaparecer do outro lado da nossa estrela no início de dezembro.

Um artigo científico será publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: ESA

terça-feira, 8 de julho de 2025

Descoberto o terceiro cometa interestelar

Astrônomos confirmaram a descoberta de um raro visitante celeste: um cometa proveniente de fora do nosso Sistema Solar.

© ESA (3I/ATLAS)

O cometa C/2025 N1, oficialmente designado 3I/ATLAS, um objeto interestelar recém-identificado é apenas o terceiro do seu gênero alguma vez observado, depois dos famosos 1I/'Oumuamua em 2017, que depois foi classificado como asteroide, e 2I/Borisov em 2019.

O cometa foi detectado pela primeira vez a 1 de julho de 2025 pelo telescópio ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), em Río Hurtado, no Chile. A sua trajetória incomum levantou imediatamente suspeitas de que era originário do espaço interestelar. Esta hipótese foi mais tarde confirmada por astrônomos de todo o mundo e o objeto recebeu a sua designação formal: 3I/ATLAS, indicando o seu estatuto de terceiro objeto interestelar conhecido.

O 3I/ATLAS está a cerca de 670 milhões de quilômetros do Sol e fará a sua maior aproximação no final de outubro de 2025, passando um pouco mais perto do que a órbita de Marte. Pensa-se que pode ter até 20 quilômetros de diâmetro e está viajando a cerca de 60 km/s em relação ao Sol. Não representa qualquer perigo para a Terra, passando a não menos do que 240 milhões de quilômetros, ou seja, mais de 1,5 vezes a distância entre a Terra e o Sol.

Os cientistas estarão agora interessados em saber mais sobre a composição e o comportamento deste visitante interestelar. O 3I/ATLAS é um cometa ativo. Se aquecer o suficiente à medida que se aproxima do Sol, pode começar a sublimar, um processo em que os gases congelados se transformam diretamente em vapor, transportando partículas de poeira e gelo para o espaço, formando uma cabeleira e uma cauda brilhantes.

No entanto, no momento em que o cometa atingir o ponto mais próximo da Terra, estará escondido atrás do Sol. Espera-se que reapareça no início de dezembro, oferecendo outra janela para estudo.

O que torna os objetos interestelares como 3I/ATLAS tão extraordinários é a sua natureza absolutamente desconhecida. Ao passo que todos os planetas, luas, asteroides, cometas e formas de vida existentes no nosso Sistema Solar partilham uma origem comum, os visitantes interestelares são verdadeiros forasteiros. São remanescentes de outros sistemas planetários, transportando consigo pistas sobre a formação de mundos muito para além do nosso. Poderão passar-se milhares de anos até que os humanos visitem um planeta de outro sistema solar e os cometas interestelares fornecem-nos a oportunidade tentadora de tocar em algo verdadeiramente de outro mundo.

Estes errantes gelados oferecem uma ligação rara e tangível à Galáxia mais alargada, a materiais formados em ambientes completamente diferentes do nosso. Visitar um deles seria ligar a humanidade ao Universo a uma escala muito maior. Com este objetivo, a ESA está preparando a missão Comet Interceptor. A nave espacial será lançada em 2029 para uma órbita de estacionamento no Ponto de Lagrange 2 (L2) do sistema Sol-Terra, à espera de um alvo adequado, um cometa imaculado da distante Nuvem de Oort que rodeia o nosso Sistema Solar ou, o que é improvável, mas altamente apelativo, um objeto interestelar.

Embora seja improvável que venhamos a descobrir um objeto interestelar que possa ser alcançado pelo Comet Interceptor, como primeira demonstração de uma missão de resposta rápida que espera no espaço pelo seu alvo, será um precursor de possíveis missões futuras para interceptar estes visitantes misteriosos. Quer se trate de 1I/'Oumuamua, de 2I/Borisov, de 3I/ATLAS ou de um futuro alvo, cada novo visitante interestelar recorda-nos que fazemos parte de uma Galáxia vasta e dinâmica.

Fonte: ESA

segunda-feira, 30 de junho de 2025

O maior cometa da Nuvem de Oort

Uma equipe de astrônomos fez uma descoberta revolucionária ao detectar atividade molecular no cometa C/2014 UN271 (Bernardinelli-Bernstein), o maior e o segundo cometa ativo mais distante alguma vez observado da Nuvem de Oort.

© NRAO (ilustração do cometa C/2014 UN271)

Usando o poderoso ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) no Chile, os pesquisadores observaram este cometa gigante quando estava a mais de meio caminho até Netuno, a uma distância surpreendente de 16,6 vezes a distância entre o Sol e a Terra.

O cometa C/2014 UN271 é um verdadeiro colosso, medindo cerca de 140 km de diâmetro, mais de 10 vezes o tamanho da maioria dos cometas conhecidos. Até agora, pouco se sabia sobre o comportamento de objetos tão frios e distantes.

As novas observações revelaram jatos complexos e em evolução de gás monóxido de carbono em erupção a partir do núcleo do cometa, fornecendo a primeira evidência direta do que impulsiona a sua atividade tão longe do Sol. Estão sendo observados padrões explosivos de desgaseificação que levantam novas questões sobre como este cometa irá evoluir à medida que continua a sua viagem em direção ao Sistema Solar interior

O telescópio ALMA observou C/2014 UN271 captando a luz do gás monóxido de carbono na sua atmosfera e a emissão térmica quando o cometa ainda estava muito longe do Sol. Graças à elevada sensibilidade e resolução do ALMA, os cientistas puderam focar-se no sinal extremamente fraco deste objeto tão frio e distante. Com base em observações anteriores do ALMA, que caracterizaram pela primeira vez a grande dimensão do núcleo de UN271, estas novas descobertas mediram o sinal térmico para melhor calcular a dimensão do cometa e a quantidade de poeira que envolve o seu núcleo. 

Os seus valores para o tamanho do núcleo e massa de poeira estão de acordo com observações anteriores do ALMA. A capacidade do ALMA para medir com precisão estes sinais tornou este estudo possível, oferecendo uma imagem mais clara deste gigante distante e gelado. 

A descoberta não só marca a primeira detecção de desgaseificação molecular neste cometa recordista, mas também oferece um raro vislumbre da química e dinâmica de objetos originários dos confins mais distantes do nosso Sistema Solar. À medida que C/2014 UN271 se aproxima do Sol, é previsto que mais gases gelados começarão a vaporizar, revelando ainda mais sobre a constituição primitiva do cometa e sobre o Sistema Solar inicial. 

Estas descobertas ajudam a responder a questões fundamentais sobre a origem da Terra e da sua água, e sobre a possível formação de ambientes propícios à vida em outros locais.

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

domingo, 19 de janeiro de 2025

Cometa C/2024 G3 (ATLAS)

O cometa C/2024 G3 (ATLAS) foi descoberto pelo levantamento Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System (ATLAS) em 5 de abril de 2024, em imagens obtidas com um telescópio refletor de 0,5 m localizado em Río Hurtado, Chile.

© ISS / Donald Pettit (cometa C/2024 G3 ATLAS)

O cometa na época era um objeto de magnitude 19 a cerca de 4,38 UA (655 milhões de km) da Terra. Outras observações indicaram que ele tinha uma coma difusa de cerca de 4,5 segundos de arco e uma cauda reta. Na época da descoberta, presumiu-se que este era um novo cometa da nuvem de Oort e, com uma magnitude absoluta (H=9), havia muito pouca ou nenhuma chance de que sobrevivesse ao periélio. Mas, à medida que a órbita foi refinada, descobriu-se que era provavelmente um cometa dinamicamente antigo, tendo feito antes aproximações do Sol.

O C/2024 G3 (ATLAS) se aproxima do Sol uma vez a cada 160.000 anos. No entanto, de acordo com cálculos orbitais de longo prazo do sistema de efemérides do Jet Propulsion Laboratory (JPL) Horizons, após a aproximação do Sol este ano, a distância do afélio do cometa será mais que o dobro da distância anterior, e seu período orbital será de cerca de 600.000 anos. 

Em 2 de janeiro de 2025, Terry Lovejoy relatou que o cometa sofreu um outburst (explosão), estimando sua magnitude em 3,7 fotograficamente e 3,2 visualmente. Em 3 de janeiro, o cometa brilhou com magnitude de 2 a 2,4. O cometa foi relatado como tendo uma sombra nuclear, uma faixa escura na cauda e era marginalmente visível a olho nu naquele dia. Em 7 de janeiro, o cometa foi descrito como sendo de primeira magnitude, com uma cauda de cerca de 20 minutos de arco de comprimento. 

O cometa foi fotografado pelo cosmonauta Ivan Vagner a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) em 10 de janeiro. O cometa também foi observado a bordo da estação pelo astronauta Donald Pettit no dia seguinte. 

O cometa entrou no campo de visão do coronógrafo LASCO C3 no SOHO em 11 de janeiro e ficou visível até 15 de janeiro. No caso deste cometa, é muito difícil prever o pico de brilho (espalhamento de mais de 10 magnitudes). G. van Buitenen prevê magnitude -4, contabilizando a dispersão para frente, no entanto, estará a apenas 5 graus do Sol na magnitude máxima.

O cometa tornou-se brilhante o suficiente para ser fotografado em plena luz do dia, e foi relatado como visível a olho nu. Após o periélio, o cometa seguiu para o sul, enquanto nas latitudes médias do norte estava baixo, estando 2 graus acima do horizonte no final do crepúsculo civil. 

O C/2024 G3 (ATLAS) é um cometa não periódico , que atingiu o periélio em 13 de janeiro de 2025, a uma distância de 0,09 UA (13 milhões de km) do Sol . É potencialmente o cometa mais brilhante de 2025, com uma magnitude aparente atingindo -3,8 no dia de seu periélio. O cometa é visível no hemisfério sul antes e depois do periélio. Ele só pode ser observado no céu diurno ao redor do periélio no hemisfério norte. 

O cometa ATLAS estará no seu melhor momento para os observadores do hemisfério sul de 19 a 24 de janeiro, durante o crepúsculo vespertino.

Fonte: Sky & Telescope