quarta-feira, 19 de maio de 2021

Vapores de metais pesados em cometas

Um novo estudo feito por uma equipe belga com dados do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) mostrou que existe ferro e níquel nas atmosferas dos cometas do Sistema Solar, mesmo aqueles distantes do Sol.

© ESO (detecção de Fe e Ni no cometa C/2016 R2 PanSTARRS)

Um estudo independente de uma equipe polonesa, que também usou dados do ESO, anunciou que existe também vapor de níquel no cometa interestelar gelado 2I/Borisov. Esta é a primeira vez que metais pesados, geralmente associados com ambientes quentes, são encontrados nas atmosferas frias de cometas distantes.

Os astrônomos já sabiam da existência de metais pesados no interior rochoso e poeirento dos cometas. Mas, uma vez que os metais sólidos não sublimam em baixas temperaturas, ou seja, não se tornam gasosos, não se esperava encontrá-los nas atmosferas de cometas frios que viajam muito além do Sol. Vapores de níquel e ferro foram agora detectados em cometas observados a mais de 480 milhões de quilômetros do Sol, o que corresponde a mais de três vezes a distância Terra-Sol.

A equipe belga descobriu ferro e níquel nas atmosferas dos cometas em quantidades aproximadamente iguais. O material do nosso Sistema Solar, por exemplo aquele encontrado no Sol e em meteoritos, contém, normalmente, cerca de dez vezes mais ferro do que níquel.

Este novo resultado tem por isso implicações na nossa compreensão do Sistema Solar primordial, apesar da equipe ainda estar estudando o que é que isto significa. Os cometas se formaram há cerca de 4,6 bilhões de anos num Sistema Solar muito jovem, não tendo sofrido alterações desde essa época. 

Apesar de estudar estes “fósseis” do Sistema Solar com o VLT do ESO há quase 20 anos, a equipe belga não tinha ainda detectado a presença de níquel e ferro nas suas atmosferas. A equipe utilizou dados do instrumento UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) montado no VLT, capturados com uma técnica chamada espectroscopia, para analisar as atmosferas de cometas a diferentes distâncias do Sol. Esta técnica permite revelar a composição química de objetos cósmicos: cada elemento químico apresenta uma assinatura única no espectro da luz do objeto. 

A equipe belga detectou linhas espectrais fracas não identificadas nos dados do UVES e após uma análise mais detalhada verificou que estas linhas sinalizavam a presença de átomos de ferro e níquel. A razão pela qual os elementos pesados foram difíceis de identificar se deve à sua existência em quantidades muito pequenas: a equipe estima que para cada 100 kg de água nas atmosferas dos cometas, exista apenas 1 g de ferro e, aproximadamente, a mesma quantidade de níquel.

Embora a equipe ainda não tenha certeza de que material isso pode ser, avanços na astronomia, tais como o instrumento METIS (Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph) previsto para o futuro Extremely Large Telescope (ELT), permitirão aos pesquisadores confirmar a fonte de átomos de ferro e níquel descobertos nas atmosferas destes cometas. 

Outro estudo notável mostra que elementos pesados também estão presentes na atmosfera do cometa interestelar 2I/Borisov. Com o auxílio do espectrógrafo X-shooter montado no VLT do ESO, uma equipe na Polônia observou este objeto, o primeiro cometa alienígena a visitar o nosso Sistema Solar, quando este passou perto de nós, há cerca de ano e meio. A equipe descobriu que a atmosfera fria do 2I/Borisov contém níquel gasoso.

Esta descoberta é surpreendente porque, antes dos dois trabalhos publicados hoje, gases com átomos de elementos pesados apenas tinham sido observados em meios quentes, tais como nas atmosferas de exoplanetas ultraquentes e em cometas em evaporação que passam muito perto do Sol.

O 2I/Borisov foi observado quando estava a cerca de 300 milhões de km do Sol, ou seja, a cerca de duas vezes a distância Terra-Sol. O estudo detalhado de corpos interestelares é fundamental porque nos fornece informações importantes sobre os sistemas planetários forasteiros que lhes deram origem. 

Os estudos feitos por estas duas equipes mostram que o 2I/Borisov e os cometas do Sistema Solar têm ainda mais em comum do que se pensava anteriormente.

Estas pesquisas foram apresentados em dois artigos científicos publicados na revista Nature.

Fonte: ESO

quinta-feira, 1 de abril de 2021

O primitivo cometa Borisov

Novas observações obtidas com o Very Large Telescope (VLT) do ESO indicam que o cometa 2I/Borisov, o segundo e mais recente visitante interestelar detectado no nosso Sistema Solar, é um dos mais primitivos já observados.

© ESO/VLT (cometa Borisov)

Os astrônomos suspeitam que o cometa provavelmente nunca passou perto de uma estrela, tornando-o uma relíquia intacta da nuvem de gás e poeira da qual se formou. O cometa 2I/Borisov foi descoberto pelo astrônomo amador Gennady Borisov em agosto de 2019, tendo-se confirmado que este objeto vinha de fora do Sistema Solar algumas semanas mais tarde.

O cometa 2I/Borisov foi estudado em detalhes, através de uma técnica chamada polarimetria, que permite medir a polarização da luz. A luz se torna polarizada quando passa através de certos filtros, como por exemplo as lentes de óculos de sol polarizados ou materiais cometários. Ao estudar as propriedades da luz solar polarizada pela poeira de um cometa, os cientistas podem aprender mais sobre a física e química destes objetos.

Uma vez que esta técnica é regularmente usada para estudar cometas e outros pequenos corpos do nosso Sistema Solar, isso permitiu que a equipe comparasse o visitante interestelar com nossos cometas locais. 

A equipe descobriu que o cometa 2I/Borisov tem propriedades polarimétricas distintas das dos cometas do Sistema Solar, com exceção do Hale-Bopp. O cometa Hale-Bopp despertou grande interesse no público no final dos anos 1990, por ser facilmente visível a olho nu e também por ser um dos cometas mais puros que os astrônomos já viram. Antes da sua mais recente passagem pelo Sol observada por nós, acredita-se que o Hale-Bopp tenha passado perto do nosso Sol apenas uma vez e, portanto, quase não foi afetado pelo vento solar e pela radiação, tratando-se por isso de um cometa bastante puro, com uma composição muito semelhante à nuvem de gás e poeira que lhe deu origem (assim como ao resto do Sistema Solar) há cerca de 4,5 bilhões de anos. 

Ao analisar a polarização juntamente com a cor do cometa para aprender mais sobre a sua composição, a equipe concluiu que o 2I/Borisov é, na realidade, ainda mais puro que o Hale-Bopp, o que significa que traz consigo assinaturas imaculadas da nuvem de gás e poeira a partir da qual se formou. 

O fato dos dois cometas serem notavelmente semelhantes sugere que o meio que deu origem ao 2I/Borisov não é assim tão diferente, em termos de composição, do meio do Sistema Solar primordial.

A chegada do 2I/Borisov do espaço interestelar nos deu a primeira oportunidade para estudar a composição de um cometa de outro sistema planetário e verificar que o material desde cometa é de algum modo diferente da nossa variedade local. 

A ESA está planejando o lançamento do Comet Interceptor em 2029, o qual terá a capacidade de chegar a outro visitante interestelar. Mesmo sem uma missão espacial, os astrônomos podem usar os muitos telescópios colocados no solo terrestre para aprenderem mais sobre as diferentes propriedades dos cometas exteriores ao Sistema Solar como o 2I/Borisov.  

Os astrônomos notaram que a coma (um envelope de poeira que rodeia o corpo principal do cometa) do 2I/Borisov contém pedrinhas compactas, grãos com cerca de um milímetro ou mais de tamanho. Além disso, descobriu-se que as quantidades relativas de monóxido de carbono e água no cometa mudaram drasticamente à medida que este se aproximou do Sol.

Este fato indica que o cometa é constituído por materiais que se formaram em diferentes locais do seu sistema planetário. As observações sugerem que a matéria existente no sistema planetário de origem do 2I/Borisov se encontrava misturada, quando da formação do cometa, desde as zonas próximas da sua estrela até às mais afastadas. Uma explicação seria a existência de planetas gigantes cuja forte gravidade agita o material no sistema. 

Os astrônomos acreditam que um processo similar tenha ocorrido nas fases iniciais do nosso próprio Sistema Solar. Apesar do 2I/Borisov ter sido o primeiro cometa vindo de fora do Sistema Solar a passar pelo Sol, não foi o primeiro visitante interestelar. O primeiro objeto interestelar que vimos passar pelo Sistema Solar foi o ‘Oumuamua, outro objeto estudado com o auxílio do VLT em 2017. Originalmente classificado como cometa, o ‘Oumuamua foi mais tarde reclassificado como asteroide já que não possuía uma coma cometária. 

Esta pesquisa será publicada nas revistas Nature Communications e Nature Astronomy.

Fonte: ESO

sábado, 6 de março de 2021

Cometa próximo dos asteroides de Júpiter

Depois de viajar vários bilhões de quilômetros em direção ao Sol, um jovem e instável objeto parecido com um cometa, orbitando entre os gigantes gasosos, encontrou ao longo do caminho um lugar de estacionamento temporário.

© Hubble (ATLAS)

O objeto estabeleceu-se perto de uma família de antigos asteroides capturados, chamados Troianos, que orbitam o Sol ao lado de Júpiter. Esta é a primeira vez que um objeto semelhante a um cometa foi avistado perto da população Troiana. O visitante inesperado pertence a uma classe de corpos gelados encontrados no espaço entre Júpiter e Netuno, chamados Centauros, tornam-se ativos pela primeira vez quando aquecidos à medida que se aproximam do Sol e fazem a transição dinâmica para um objeto mais parecido a um cometa.

Instantâneos no visível pelo telescópio espacial Hubble revelam que o objeto mostra sinais de atividade cometária, como uma cauda, gases emitidos na forma de jatos e uma coma envolvente de poeira e gás. Observações anteriores feitas pelo telescópio espacial Spitzer da NASA proporcionaram pistas sobre a composição do objeto e os gases que conduzem a sua atividade. 

O objeto tem uma cauda larga com aproximadamente 640.000 km e características de alta resolução perto do núcleo devido a uma coma e jatos. Os astrônomos estão verificando como foi capturado por Júpiter e acabou por ficar entre os Troianos. Mas pode estar relacionado com o fato de que teve um encontro relativamente próximo com Júpiter.

As simulações de computador mostram que o objeto gelado, chamado P/2019 LD2 (ATLAS), provavelmente passou perto de Júpiter há cerca de dois anos. O planeta então lançou gravitacionalmente o visitante para a localização co-orbital do grupo de asteroides Troianos, situados orbitalmente "à frente" de Júpiter a mais ou menos 700 milhões de quilômetros.

O objeto errante foi descoberto no início de junho de 2019 pelos telescópios ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) da Universidade do Havaí, localizados nos vulcões extintos, um em Mauna Kea e o outro em Haleakala. 

O astrônomo amador japonês Seiichi Yoshida avisou a equipe do Hubble sobre a possível atividade cometária. Os astrônomos então analisaram dados de arquivo do ZTF (Zwicky Transient Facility), um levantamento de campo amplo situado no Observatório Palomar, na Califórnia, e perceberam que o objeto estava claramente ativo nas imagens de abril de 2019.

Os cientistas então realizaram observações de acompanhamento no Observatório de Apache Point, no estado norte-americano do Novo México, que também sugeriram a atividade. A equipe observou o cometa usando o Spitzer poucos dias antes deste se retirar em janeiro de 2020, e identificaram gás e poeira em torno do núcleo do cometa. Auxiliados pela visão nítida do Hubble, foram identificadas a cauda, a estrutura da coma e o tamanho das partículas de poeira e a sua velocidade de ejeção. 

O convidado inesperado provavelmente não ficará entre os asteroides por muito tempo. As simulações de computador mostram que terá outro encontro próximo com Júpiter daqui a cerca de dois anos. O planeta gigante vai expulsar o cometa do grupo, e continuará a sua viagem até ao Sistema Solar interior. 

O intruso gelado é provavelmente um dos membros mais recentes da "brigada" de cometas a ser expulso da do Cinturão de Kuiper para a região do planeta gigante por meio de interações com outro objeto. Localizado além da órbita de Netuno, o Cinturão de Kuiper é um refúgio de remanescentes gelados da construção dos nossos planetas há 4,6 bilhões de anos, contendo milhões de objetos, e ocasionalmente estes objetos têm colisões que alteram drasticamente as suas órbitas no Cinturão de Kuiper para dentro da região do planeta gigante. 

Os cometas de período curto, do Sistema Solar interior, fragmentam-se cerca de uma vez por século. De modo que para manter o número de cometas locais que vemos hoje, é possível que esta brigada tem que fornecer um novo cometa de curto período a cada 100 anos.

A observação da liberação de gases num cometa a 750 milhões de quilômetros do Sol (onde a intensidade da luz do Sol é 1/25 da intensidade que a Terra recebe) é intrigante.  A água permanece gelada num cometa até este atingir aproximadamente 320 milhões de quilômetros do Sol, onde o calor da luz solar converte o gelo em gás que escapa do núcleo na forma de jatos. Portanto, a atividade sinaliza que a cauda pode não ser feita de água. 

Realmente, as observações do Spitzer indicaram a presença de monóxido de carbono e dióxido de carbono, que podem estar conduzindo a criação da cauda e dos jatos vistos no cometa na órbita de Júpiter. Estes voláteis não precisam de muita luz solar para aquecer a sua forma gelada e converterem-se em gás. 

Assim que o cometa for expulso da órbita de Júpiter e prosseguir viagem, poderá encontrar-se de novo com o planeta gigante. Os cometas de curto período como o ATLAS encontram o seu destino ao serem lançados em direção ao Sol e desintegrando-se totalmente, atingindo um planeta ou aventurando-se demasiado perto de Júpiter mais uma vez e sendo expulsos do Sistema Solar, que é o destino mais comum. As simulações mostram que daqui a cerca de 500.000 anos, há 90% de probabilidade de que este objeto seja expelido do Sistema Solar e se torne um cometa interestelar.

Um artigo foi publicado no periódico The Astronomical Journal.

Fonte: Space Telescope Science Institute

sábado, 11 de julho de 2020

A cauda do cometa NEOWISE

O cometa NEOWISE (C/2020 F3) está agora varrendo os céus do norte.


© Miloslav Druckmuller (cometa NEOWISE)

Suas caudas em desenvolvimento se estendem por cerca de seis graus através desse campo de visão telescópico, captado por Miloslav Druckmuller, em Brno, República Tcheca, antes do amanhecer de 10 de julho. Empurrado pela pressão da luz do Sol, a cauda larga e amarelada de poeira do cometa é mais fácil de ver.

Mas a imagem também evidencia uma cauda mais fraca e mais azulada, separada da poeira reflexiva do cometa. A cauda mais fraca é uma cauda iônica, formada quando íons da coma cometária são arrastados para fora por campos magnéticos do vento solar gerando fluorescência.

Neste retrato nítido desse novo visitante do Sistema Solar externo, as caudas do cometa NEOWISE lembram as caudas ainda mais brilhantes de Hale Bopp, o Grande Cometa de 1997.

Fonte: NASA

terça-feira, 7 de julho de 2020

Cometa visto da ISS

O cometa NEOWISE, cuja designação é C/2020 F3, tem sido motivo de entusiasmo para astrônomos e até mesmo para os astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).


© NASA/Roscosmos/ISS/Ivan Vagner (cometa NEOWISE)

Enquanto se espera que ele se torne brilhante o suficiente para ser visto a olho nu, Bob Behnken e Ivan Vagner o fotografaram do espaço no último fim de semana. 

Quando foi descoberto em 27 de março de 2020 pela sonda WISE (Near-Earth Object Wide-field Infrared Survey Explorer), o cometa gelado estava com brilho bastante fraco, e os astrônomos não tinham certeza de que isso mudaria em algum momento. Mas, com o passar do tempo, o cometa se tornou cada vez mais luminoso, chamando a atenção dos observadores após a decepção com outros dois cometas promissores que desapareceram recentemente. 

Bob Behnken, astronauta que foi à ISS a bordo da SpaceX Crew Dragon no final de maio, e o cosmonauta russo Ivan Vagner fotografaram o cometa. Uma imagem obtida por Ivan foi feita de uma perspectiva diferente, dando a impressão de que o cometa está caindo na Terra. Esta imagem é particularmente fascinante porque é possível distinguir claramente a cauda do NEOWISE, que é formada pela radiação do Sol que empurra a poeira da coma, enquanto o gelo se aquece e se transforma em gás. 

Em 3 de julho de 2020, o cometa passou pelo seu periélio, ou seja, a maior aproximação do Sol durante seu trajeto orbital, a uma distância de 0,29 UA (equivalente a 43 milhões de km). No entanto, espera-se que ele se torne visível a olho nu quando fizer sua maior aproximação da Terra, numa distância de 0,69 UA (equivalente a 103 milhões de km), o que acontecerá entre os dias 22 e 23 de julho, sendo visível ao anoitecer brilhando na 3ª magnitude e situado na constelação de Ursa Maior. 

Por enquanto, os que tiverem um bom par de binóculos adequados para astronomia podem observar o cometa no céu noturno. 

Fonte: Galileu

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A cauda iônica do cometa SWAN

 O recém-descoberto Comet SWAN já desenvolveu uma cauda impressionante.



© Gerald Rhemann (cometa SWAN)

O cometa veio do Sistema Solar externo e acabou de passar dentro da órbita da Terra. Designado oficialmente como C/2020 F8 (SWAN), este iceberg interplanetário ultrapassará a distância mais próxima da Terra (perigeu) em 13 de maio e a mais próxima do Sol (periélio) em 27 de maio.

O cometa foi notado pela primeira vez no final de março por um entusiasta da astronomia, olhando imagens pela sonda SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) da ESA e da NASA em órbita solar, e recebeu o nome da câmera Solar Wind Anisotropies (SWAN) da sonda. 

A imagem em destaque, tirada do céu escuro da Namíbia pelo astrofotógrafo Gerald Rhemann em meados de abril, captou a coma verde brilhante do cometa SWAN e uma cauda iônica inesperadamente longa, detalhada e azul. 

Embora o brilho dos cometas seja notoriamente difícil de prever, alguns modelos fazem com que o cometa SWAN se torne brilhante o suficiente que está sendo visto a olho nu neste início do mês de Maio com a 5ª magnitude. Como o cometa está se aproximando do Sol, o seu brilho aumentará e a sua magnitude diminuirá, porém ficará cada vez mais próximo do horizonte dificultando sua visualização.

Fonte: NASA

A fragmentação do cometa ATLAS

 O telescópio espacial Hubble forneceu a visão mais nítida até ao momento do colapso do cometa C/2019 Y4 (ATLAS).



© Hubble (cometa ATLAS) 

O telescópio determinou aproximadamente 30 fragmentos do frágil cometa no dia 20 de abril e 25 pedaços no dia 23 de abril.

O cometa foi descoberto pela primeira vez em dezembro de 2019 pelo sistema robótico de levantamento ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System) no Havaí, EUA. Aumentou rapidamente de brilho até meados de março, e alguns astrônomos previram inicialmente que talvez ficasse visível a olho nu em maio para se tornar um dos cometas mais espetaculares vistos nas últimas duas décadas. No entanto, o cometa começou abruptamente a ficar mais fraco, levando a especulação que o núcleo de gelo podia estar se fragmentando, ou até se desintegrando. A fragmentação do ATLAS foi confirmada pelo astrônomo amador José de Queiroz, que fotografou cerca de três fragmentos do cometa no dia 11 de abril.

As novas observações da fragmentação do cometa, pelo telescópio espacial Hubble, obtidas nos dias 20 e 23 de abril, revelam que os pedaços estão todos envoltos numa cauda de poeira cometária, varrida pela luz do Sol. Estas imagens fornecem mais evidências de que a fragmentação dos cometas é provavelmente comum e pode até ser o mecanismo dominante pelo qual os núcleos sólidos e gelados dos cometas morrem.

Considerando que a fragmentação cometária ocorre de forma rápida e imprevisível, as observações fiáveis são raras. Portanto, os astrônomos permanecem bastante incertos sobre a causa da fragmentação. Uma sugestão é que o núcleo original se quebre em pedaços por causa da ação dos jatos que expelem gelos através da sublimação. Dado que este fluxo provavelmente não está disperso uniformemente pelo cometa, agudiza a fragmentação.

As imagens nítidas do Hubble podem fornecer novas pistas sobre a separação. O telescópio distinguiu pedaços distintos tão pequenos quanto uma casa. Antes da fragmentação, todo o núcleo não podia ter mais do que o comprimento de dois campos de futebol.

O cometa ATLAS, em desintegração, está atualmente localizado dentro da órbita de Marte, a uma distância de mais ou menos 145 milhões de quilômetros da Terra quando as últimas observações do Hubble foram feitas. O cometa fará a sua maior aproximação à Terra no dia 23 de maio a uma distância de aproximadamente 115 milhões de quilômetros e, oito dias depois, passará pelo Sol a 37 milhões de quilômetros de distância.

Fonte: Space Telescope Science Institute

sábado, 25 de abril de 2020

Revelada composição do cometa Borisov

No ano passado um visitante galáctico entrou no nosso Sistema Solar, o cometa interestelar 2I/Borisov.


© NRAO/S. Dagnello (ilustração do cometa interestelar Borisov) 

Quando os astrônomos apontaram o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) em direção ao cometa nos dias 15 e 16 de dezembro de 2019, observaram diretamente e pela primeira vez as substâncias químicas armazenadas dentro de um objeto pertencente a outro sistema planetário que não o nosso.

As observações do ALMA de uma equipe internacional de cientistas liderada por Martin Cordiner e Stefanie Milam, do Goddard Space Flight Center da NASA, revelaram que o gás que saía do cometa continha quantidades incomumente altas de monóxido de carbono (CO). A concentração de CO é maior do que a já detectada em qualquer cometa até 2 UA (Unidades Astronômicas) do Sol, isto é, até 300 milhões de quilômetros. A concentração de CO de 2I/Borisov foi estimada entre 9 e 26 vezes superior à de um cometa médio do Sistema Solar.

Os astrônomos estão interessados em aprender mais sobre os cometas, porque estes objetos passam a maior parte do tempo a grandes distâncias de qualquer estrela em ambientes muito frios. Ao contrário dos planetas, as suas composições interiores não mudaram significativamente desde que nasceram. Portanto, podiam revelar muito sobre os processos que ocorreram durante o seu nascimento em discos protoplanetários.

O ALMA detectou duas moléculas no gás ejetado pelo cometa: cianeto de hidrogênio (HCN) e monóxido de carbono (CO). Embora a equipe esperasse ver HCN, presente em 2I/Borisov em quantidades semelhantes às encontradas nos cometas do Sistema Solar, ficaram surpresos ao ver grandes quantidades de CO. "O cometa deve ter-se formado a partir de material muito rico em CO gelado, que está presente apenas nas temperaturas mais baixas encontradas no espaço, abaixo dos -250ºC," disse a cientista planetária Stefanie Milam.

O monóxido de carbono é uma das moléculas mais comuns no espaço e é encontrado no interior da maioria dos cometas. No entanto, há uma enorme variação na concentração de CO nos cometas e ninguém sabe exatamente porquê. Parte da justificação pode estar relacionada com o local onde, no Sistema Solar, um cometa foi formado; outra parte pode ter a ver com a frequência com que a órbita de um cometa o aproxima do Sol e o leva a liberar mais facilmente seus componentes voláteis.

O cometa 2I/Borisov pode ter sido formado de maneira diferente dos cometas do nosso Sistema Solar, numa região externa e extremamente fria de um sistema planetário distante, que pode ser comparada ao Cinturão de Kuiper.

Especula-se o tipo de estrela que hospedou o sistema planetário de 2I/Borisov. A maioria dos discos protoplanetários observados com o ALMA encontra-se em torno de estrelas jovens de baixa massa como o Sol. Muitos destes discos estendem-se bem além da região onde se pensa que os nossos próprios cometas se formaram e contêm grandes quantidades de gás e poeira extremamente frios. É possível que 2I/Borisov tenha vindo de um destes discos maiores.

Devido à sua alta velocidade ao viajar pelo nosso Sistema Solar (33 km/s), os astrônomos suspeitam que 2I/Borisov foi expelido do seu sistema hospedeiro, provavelmente pela interação com uma estrela passageira ou por um planeta gigante. Passou depois milhões ou bilhões de anos numa viagem fria e solitária pelo espaço interestelar, antes de ser descoberta no dia 30 de agosto de 2019 pelo astrônomo amador Gennady Borisov.

O cometa 2I/Borisov é apenas o segundo objeto interestelar a ser detectado no nosso Sistema Solar. O primeiro - 1I/'Oumuamua - foi descoberto em outubro de 2017, quando já estava na sua rota de saída, dificultando a revelação de detalhes sobre se era um cometa, asteroide ou outra coisa. A presença de uma cabeleira ativa de gás e poeira ao redor de 2I/Borisov tornou-o no primeiro cometa interestelar confirmado.

Até que outros cometas interestelares sejam observados, a composição incomum de 2I/Borisov não pode ser facilmente explicada e levanta mais perguntas do que respostas. A sua composição é típica de cometas interestelares? Será que vamos ver mais cometas interestelares nos próximos anos com composições químicas peculiares? O que será que vão revelar sobre como os planetas se formam nos outros sistemas estelares?

Esta pesquisa foi publicada na revista Nature Astronomy.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

domingo, 19 de abril de 2020

Nova descoberta do Observatório SONEAR

O astrônomo brasileiro Eduardo Pimentel descobriu o oitavo cometa e o segundo periódico, através do Observatório SONEAR (Southern Observatory for Near Earth Research), em Oliveira (MG-Brasil).


© E. Guido/A. Valvasori (cometa Pimentel) 

O empilhamento de 7 exposições não filtradas, 24 segundos cada, obtidas remotamente 15 de abril de 2020 por Ernesto Guido e Adriano Valvasori, no Q62 (rede iTelescope) por meio de um astrógrafo de 0,50- mf/6,8 astrógrafo, CCD e redutor focal, mostra que esse objeto é um cometa com um coma compacta; com cerca de 15" de diâmetro e uma cauda de 20" de comprimento em PA 90. 

O novo cometa foi designado P/2020 G1 (Pimentel). Os dados preliminares indicam período orbital de 8,64 anos com periélio em 0,51 UA (Unidades Astronômicas, 76 milhões de Km) do Sol que aconteceu em 17 de março de 2020 e inclinação de órbita de 18,6 graus. 

Fonte: Observatório SONEAR

Novo cometa promissor

Enquanto o cometa C/2019 Y4 (ATLAS) perde sua exuberância, o astrônomo Michael Mattiazzo, da Austrália, encontrou um novo cometa em 13 de abril de 2020, denominado C/2020 F8 (SWAN) em imagens tiradas pela câmera Solar Wind ANisotropies (SWAN) no Solar and Heliospheric Observatory (SOHO).


© Rolando Ligustri (cometa SWAN)

Atualmente, o cometa SWAN está na 8ª magnitude, compacto e brilhante, enquanto atravessa Piscis Austrinus ao amanhecer para observadores do Hemisfério Sul. Em breve, ele irá para o norte, fazendo sua primeira aparição em Aquário na 7ª magnitude para os observadores do sul dos EUA no final do mês.

O cometa C/ 2020 F8 (SWAN) continuará brilhando e se movendo rapidamente para o norte, no céu do amanhecer de maio, atingindo uma magnitude máxima de 3,5 entre 15 e 23 de maio, enquanto corre do Triangulum através de Perseu. Embora brilhante, o cometa permanece baixo no céu do nordeste no início do amanhecer durante a maior parte de sua aparição. 

Surpreendentemente, o cometa SWAN chegou bem a tempo de atacar o ATLAS no caso de o cometa se desintegrar completamente. Até atinge o brilho máximo na mesma área do céu. 

Sua máxima aproximação com a Terra será em 13 de maio e ocorrerá a pouco mais de 83 milhões de quilômetros. O cometa atingirá seu periélio, o ponto mais próximo de sua órbita ao redor do Sol, em 27 de maio, a uma distância de 64,3 milhões de quilômetros.

Fonte: Sky & Telescope

sábado, 11 de abril de 2020

O cometa ATLAS está se desintegrando?

No The Astronomer's Telegram recente, os astrônomos Quanzhi Ye (Universidade de Maryland) e Qicheng Zhang (Caltech) relatam que as fotografias tiradas nos dias 2 e 5 de abril do cometa ATLAS (C/2019 Y4) revelaram uma mudança acentuada na aparência de seu núcleo compacto, alongado e difuso.


© Q. Ye/Q. Zhang (núcleo alongado do cometa ATLAS)

Fotos tiradas em 2 de abril (à esquerda) e 5 de abril com o telescópio Ningbo Education Xinjiang de 0,6 m mostram como o pseudo-núcleo do cometa ATLAS se alongou, indicando uma possível fragmentação de seu núcleo.

Uma segunda equipe de astrônomos liderada por I. A. Steele (Universidade Liverpool John Moores) confirmou a descoberta. Essa mudança na aparência é "consistente com um repentino declínio ou diminuição da produção de poeira, como seria de esperar de uma grande perturbação do núcleo," descreveram Zhang e Ye.

Um núcleo alongado costuma ser um mau sinal e pode significar que o cometa está se desintegrando, como aconteceu com o cometa Elenin (C/2010 X1) antes da passagem do periélio em setembro de 2011, quando seu núcleo desmoronou e o objeto se dissipou rapidamente. A evidência adicional da ruptura do ATLAS vem de uma mudança inesperada na direção de seu movimento orbital causada por forças "não-gravitacionais". A fragmentação expõe o gelo fresco à luz solar, que vaporiza rapidamente. Os gases em expansão agem como um motor de foguete natural e empurram suavemente o cometa de seu caminho designado.

Nenhuma causa foi atribuída à fragmentação, mas estudos recentes indicam que a rotação acelerada pode desempenhar um papel significativo nas separações nucleares. Jatos de gás saindo do cometa podem girá-lo, estressando o corpo gelado até que ele desenvolva rachaduras que levem a uma ruptura.



© Nick Haigh (fragmentação do núcleo do cometa ATLAS)

Esta foto, compilada a partir de imagens tiradas nos dias 8 e 9 de abril entre as 23:40 UT e 01:54 UT, mostra alterações adicionais no núcleo do cometa.

No final de março, o cometa ATLAS começou a platô em brilho; agora parece estar desaparecendo lentamente. As últimas estimativas colocam o cometa em torno da magnitude 8,5-9. Observadores com instrumentos maiores trabalhando em alta ampliação podem ser capazes de discernir fragmentos nucleares maiores.  Em 8 de abril de 2014, astrônomos observaram que o brilho e a densidade da região nuclear haviam diminuído em relação a uma observação feita 10 antes.

Embora seja possível que o cometa ATLAS tenha perdido apenas um único pequeno fragmento e continuará se destacando no periélio e na visibilidade a olho nu, a óptica não está boa no momento. A Lua cheia ocorreu no dia 7 de abril, mas uma janela no céu escuro retorna depois do dia 9.

Fonte: Sky & Telescope

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Cometa Borisov está se fragmentando

O cometa interestelar 2I/Borisov, descoberto em seu caminho para o Sistema Solar em 2019, começou a lançar pedaços no final de março, mais de três meses após sua aproximação máxima do Sol em 8 de dezembro.


© Hubble/D. Jewitt (cometa Borisov)

Observações recentes mostram que o centro do cometa Borisov parece ter se dividido: nos dias 23, 28 e 30 de março, imagens gravadas pelo telescópio espacial Hubble mostram que o núcleo do cometa mudou de um único ponto brilhante para uma área alongada, onde dois objetos não resolvidos estão a cerca de 180 quilômetros de distância.

Em outras palavras, as imagens mostram um pequeno pedaço do cometa partindo e se afastando lentamente, descrevem David Jewitt (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e colegas no The Astronomer's Telegram. Se a divisão começou em 23 de março, a velocidade será de cerca de 0,3 m/s.

Além disso, essa divisão não é a única: depois de processar as mesmas imagens do Hubble para aumentar o contraste entre o núcleo e o coma em torno dele, Bryce Bolin (Caltech) e colegas avistaram um segundo pedaço a cerca de 540 km do centro do cometa, deslocando com velocidade de pelo menos 0,5 m/s. Ele sugere, também no The Astronomer's Telegram, que o fragmento possa ter se separado do cometa durante um outburst de 7 de março, que iluminou o cometa com magnitude 0,7. De fato, Michal Drahus (Universidade Jagiellonian, Polônia) e seus colegas notaram a possibilidade de que a explosão pudesse ser causada pela fragmentação do núcleo em um telegrama anterior.

 Este é o começo do fim para o nosso segundo visitante interestelar registrado?

"Por que o cometa começaria a se quebrar agora é estranho," diz Bolin. É provável que os cometas nativos do nosso Sistema Solar percam pedaços ou desintegrem-se quando estiverem mais próximos do Sol. O cometa Borisov passou @ UA (Unidades Astronômicas) do Sol no periélio e passou seis meses dentro de 3 UA do Sol, onde a luz solar pode vaporizar a água e outros elementos. No entanto, os cometas diferem amplamente e a fragmentação é possível à distância atual do cometa de 3 UA.

Antes do periélio, a análise de Jewitt das imagens do telescópio espacial Hubble mostrou que o cometa Borisov é muito menor do que se pensava. O núcleo do cometa não é diretamente visível, mas no Astrophysical Journal Letters de 10 de janeiro, Jewitt colocou seu diâmetro entre 0,4 e 1 quilômetro. É pequeno o suficiente para que a vaporização solar dos gelos da superfície do lado voltado para o Sol possa acelerar sua rotação além da capacidade da gravidade de mantê-lo unido.

No entanto, é difícil estimar o tamanho do cometa, pois sua superfície parece emitir tanto gás e poeira que obscurece o núcleo. O fragmento que Jewitt observou é tão brilhante quanto o próprio cometa, mas como sua superfície é tão gelada e ativa, ele acha que a massa do fragmento é inferior a 1% de todo o cometa. Isso faria a divisão mais como um espelho lateral caindo de um carro do que um carro caindo aos pedaços. Por que o fragmento se separou do cometa não é claro, mas as possibilidades incluem vaporização térmica depois que o novo material foi exposto, bem como a força do giro do cometa se ele está girando tão rápido quanto sugere Jewitt.

O fragmento que Bolin relata está mais distante do cometa, empurrado para longe do Sol pela vaporização solar. Ele estava ausente nas imagens de 24 de fevereiro, mas apareceu nos dados de 23 a 28 de março. Ele estimou seu tamanho como não mais de 100 metros de diâmetro com base em sua visibilidade, mas, como Jewitt, ele não tinha uma medida direta.

O fragmento fornece evidências de que "o cometa está passando por um evento de fragmentação. Quando os cometas fragmentam-se catastroficamente, seu brilho diminui muito rapidamente. Isso não está ocorrendo no cometa Borisov.

Os cometas são notoriamente difíceis de prever. "Um período de rotação de quatro horas ou menos pode causar a ruptura do núcleo," diz Jewitt. "A análise dos dados do telescópio espacial Hubble mostra um período de cerca de 10 horas em dezembro, mas a velocidade pode ter aumentado desde então. Teremos que esperar para ver o que acontece," diz Bolin.

O cometa Borisov estava se movendo cerca de 33 km/s quando foi descoberto, então levaria 100.000 anos para atravessar um ano-luz. Porém, com apenas meses de dados orbitais, não temos informações suficientes para traçar seu caminho de volta por distâncias incontáveis ​​até o local de nascimento.

O cometa Borisov parece ter sido pouco alterado antes de chegar ao nosso Sistema Solar. Pode ter uma fuga estreita na saída.

Fonte: Sky & Telescope